De Bar em Bar: a Adega do Pimenta – memórias, chope e comida alemã da melhor qualidade

Quadro da fachada do bar, com o icônico bondinho – Foto de Bruno Agostini

Eu gosto de lugares com memória e memorabilia. Se for um bar, acho necessário. É o caso da Adega do Pimenta, meu recanto preferido em Santa Teresa, que frequento há mais de 20 anos. As paredes são repletas de lembranças, em forma de fotos, desenhos, pinturas, recortes de jornal, pôsteres que remetem à Alemanha e outros elementos de decoração, como rótulos de cerveja e notas, de todo o mundo, que me fazem viajar, no tempo e no espaço.

Eu me recordo das muitas vezes em que estive no pequeno salão, pedindo rodadas de chope e pratos germânicos. Existe até uma crônica do mestre Apicius, que despertou em mim o desejo de escrever sobre comida e bebida. Era só elogios. (Para ver as fotos em tamanho maior, basta clicar nelas).

Novidade desenvolvida pelo Herr Pfeffer com o Alemão da Serra: cinco camadas de sabores, cores e texturas – Foto de Bruno Agostini

O carinho pelo lugar só aumenta com o passar dos anos, entre outras razões porque a Adega do Pimenta é mãe do meu bar preferido, o Herr Pfeffer, no Leblon, tantas vezes motivo de post neste site e no meu Instagram (@brunoagostinifoto e @menu_agostini), porque eu não me canso de recomendar essa casa, igualmente pequena, germânica e deliciosa, um dos lugares no mundo onde sou mais feliz – e recentemente ganhei mais uma razão para toda essa alegria: o rocambole de torresmo, novidade da temporada, algo surreal de bom, tema de uma reportagem que fiz no mês passado, um sucesso total dentro da coluna Retrato de um Prato, que adoro escrever.

Pintura de William Guedes, feita sob encomenda, para um artista de Tiradentes – Foto de Bruno Agostini

Na verdade, é mais uma relação de pai e filho.  William Guedes é o patriarca, que cuida da Adega do Pimenta, enquanto seu filho, Fabio Santos, é o responsável pelo Herr Pfeffer.

Quinteto de patês, simplesmente sensacional! – Foto de Bruno Agostini

Os cardápios se parecem, e eu poderia recomendar algumas coisas que classifico como imperdíveis nos dois lugares, começando pela porção de patês, com cinco exemplares (de carne bovina, fresca e curada, e um trio de fígado: bovino, suíno e galináceo), e pelos embutidos, com destaque para a chamada linguiça da diretoria (com pimenta verde) e a morcela, fora toda a sorte de salsichas, produzidas artesanalmente por uma alemão, em Mendes (RJ), de uma qualidade impressionante. Podemos pedir um currywurst, como se a gente estivesse num quiosque em Berlim.

Rollmops, perfeito para um chope Pilsner – Foto de Bruno Agostini

Para começar, ainda, há os rollmops, o arenque curado em vinagre, e enroladinho, os croquetes, cremosos e crocantes; o steak tartare… Aí, eu me lembro do kassler, mas sobretudo do joelho de porco, o melhor do Rio. Fora a feijoada alemã, com feijão branco, kassler, salsicha branca e defumada, lombo, costela, batata, cenoura e arroz branco. Língua bovina, coelho, pato, goulash… E, assim, eu percorro o cardápio como quem aprecia um bom livro.

Novidade da temporada: resgate do prato matador – Foto de Bruno Agostini

Se no Herr Pfeffer a novidade da temporada é o rocambole de torresmo, na Adega do Pimenta é o resgate de um prato antiga que havia saído do menu: trata-se do “Schlachplatte”, ou seja, o “Prato Matador”, uma tradição germânica, que leva esse nome por conta da tradição do açougueiro/mestre salsicheiro/charcutier. Em tempos remotos, as pessoas criavam porcos, e de vez em quando convocavam esse profissional para ir até suas casas, para matar o porco e trabalhar as carnes. O pagamento era em forma de miúdos, que o “matador” transformava em embutidos diversos, além de curar algumas partes.

Me mata de felicidade: salsichas branca e bock, kassIer, bacon, chouriço, morcela, chucrute e batatas cozidas – Foto de Bruno Agostini

O prato, para mim, é o próprio exemplo de felicidade à mesa, tipo de comida que eu adoro:  são salsichas branca e bock, kassIer, bacon, chouriço, morcela, chucrute e batatas cozidas, além de joelho, neste caso cozido e não assado, deixando a pele macia, macia. Não pode faltar, aí, a mostarda da casa, que é uma mistura preparada pelo Fabio Santos, bem como o molho de pimenta, dos melhores que existem por aí (Adega do Pimenta faz jus ao nome, que remete ao fundador, o alemão Holf Pfeffer – este sobrenome significa Pimenta, daí o batismo da casa).

A linguiça da Diretoria, a rigor uma salsicha branca com pimenta verde – Foto de Bruno Agostini

Assim como bares precisam de memória e memorabilia, como dizia no começo, também é bom que tenham boas histórias, como é o caso. William Guedes era frequentador da casa, e ao saber que o bar poderia fechar, não pensou duas vezes, e comprou o negócio (eu ainda hei de fazer isso um dia também), mesmo caso, por exemplo, da Toca do Baiacu, no Centro, e do Chachambeer, cujo nome carrega o bairro onde está e a especialidade etílica, ambos comprados por frequentadores, quando as casas ameaçaram fechar as portas definitivamente. Aliás, a linguiça da Diretoria (a rigor uma salsicha branca com pimenta verde grelhada) ganhou esse nome porque era sempre pedida por um grupo de amigos que frequentava a Adega do Pimenta, a “Diretoria”, e entre eles estava o William.

Apfelstrudel e a mesa de amigos: tarde fantástica – Foto de Bruno Agostini

Outro dia recebi a missão de organizar um mesão lá na Adega do Pimenta, que a propósito tem filial na Praça Tiradentes. O cardápio foi uma seleção do que mais gosto ali: rollmops, patês, embutidos, o “Prato Matador” e, para encerrar, apfelstrudel. Com creme batido na hora.

Bebemos chopes em profusão, cachaças da Magnífica, que não tem esse nome à toa, e também drinques preparados com elas. Foi uma tarde memorável, que só de escrever me enche de saudades.

A linha da Magnífica: essa “Soleira” é sensacional – Foto de Bruno Agostini

Eu realmente me emociono ali. Eu, de fato, amo a comida alemã. O porco é a carne de que mais gosto. Mostarda é o condimento preferido. Fora o chope…

Por tudo isso, o Herr Pfeffer é meu bar preferido no mundo, e a Adega do Pimenta é como se fosse uma extensão dele.

SERVIÇO
Adega do Pimenta: Rua Almirante Alexandrino 296, Santa Teresa. Tel: 2224-7554. www.adegadopimenta.com.br

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4 commentários
  1. Um lugar diferenciado no Rio,que prima pela qualidade dos pratos e o atendimento sempre cordial de seus funcionários.
    Tudo isso comandado pessoalmente e com toda maestria por seu proprietário Willian Gedes.
    Um oásis da gastronomia carioca/alemã!

  2. Boa noite Bruno. Já comentei contigo que você tem de conhecer “O Burgomestre”, no bairro do Cônego em Nova Friburgo, o melhor restaurante alemão do estado do Rio. Bom, nunca fui ao Alemão de Mendes, não tenho coragem de por meu carro numa estrada de terra, 26 quilômetros. Também te falei do imperdível açougue Marcellu’s, na rua 13 de maio, Petrópolis. Morcela, codeguim, salsichoes, Bacon, linguiças, joelho e o melhor kassler que comi na vida, muito superior a todos os que conheço, inclusive o alemão da serra. Por fim essa semana passei de VLT na praça Tiradentes e vi a Adega do Pimenta fechada. Eram 11:50 da manhã. Espero que tenha fechado pela covid e reabra.
    Um abraço

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