Os Pét-Nat estão na moda. Esses espumantes representam a vanguarda do mundo do vinho, justamente por serem tão antigos e tradicionais. Quase foram extintos, e legados ao esquecimento, mas no embalo dos vinhos naturais estão em alta, e isso não parece ser apenas uma tendência passageira de verão. Também conhecido por método ancestral, o processo de vinificação tem apenas uma fermentação, que acontece na garrafa, quando acontece a tomada de espuma. O nome é abreviação, no francês, de “pétillant naturel”, ou seja, efervescente natural.
De uma maneira geral, são delicados, leves e refrescantes, com baixo teor alcoólico e borbulhas delicadas, que muitas vezes somem pouco depois de a garrafa ser aberta. Com certa turbidez, pois não são filtrados, claro, os vinhos carregam a complexidade que entrega a pureza de uma vinificação deste tipo, sem colagens e outros processos de “limpeza” que carregam mais do que elementos visuais, mas também de aroma e sabor. O contato com as leveduras contribui para a riqueza no nariz e na boca, dando além de notas típicas de padaria etc, mas também textura cremosa, volumosa e ampla. Mas, de maneira geral, como são feitos para serem bebidos jovens, são muito mais focados no frescor da fruta e na leveza. Não é vinho para se guardar (porém, tomei o 2018 em setembro de 2022, e estava uma maravilha, sem sinais de cansaço, mas cheio de vivacidade e frescor, com muita elegância e presença).
No Brasil, essa terra especialista em espumantes, a onda se espalhou. Inicialmente, entre pequenos produtores dedicados aos vinhos naturais, mas não só. Mesmo as grandes vinícolas, aqui e lá fora, estão investindo no estilo, uma técnica com cerca de 500 anos, originária na região de Limoux, no sul da França. Uma das gigantes do Vinho Verde, no norte de Portugal, a Quinta da Lixa também produz um Pét-Nat, capitaneando um time de vinhos que são xodó do enólogo da casa, Carlos Teixeira, que vem aos poucos apostando nos vinhos de mínima intervenção, com o excelente trio rótulos produzidos com a casta Avesso, que vem ganhando a atenção e se mostra a bola da vez na região – depois da Alvarinho e da Loureiro ganharem os holofotes com varietais.
Aliás, são essas duas uvas que dão origem ao Morgado da Vila Pét-Nat, da Quinta da Lixa, que visitei em setembro passado. Sou embaixador da marca, e voltei bem impressionado com a vinícola, seu lindo hotel, com restaurante extraclasse (para ler um post, clique aqui), além de suas cinco propriedades, explorando as diversas castas e o terroir do Minho, zona produtora de vinhos gastronômicos por natureza, clássicos universais para receitas com peixes e frutos do mar, frituras, porco e receitas asiáticas, picantes e agridoces.
O Pét-Nat ainda não está no mercado brasileiro, mas chega ainda esse ano, para minha inteira felicidade. Há cerca de dez dias provei mais uma garrafa (safra 2021), desta vez na Churrascaria Palace, e o vinho brilhou. Primeiro, com sua bonita garrafa, com rótulo que sugere um corte equivocado. Esqueça o saca-rolhas, esses espumantes ancestrais são abertos com abridor de garrafas, pois são fechados com tampinha de metal, como cervejas e refrigerantes. Sem adição de leveduras ou sulfitos, é um vinho de fermentação natural, desses que enobrecem a categoria, limpo, fresco e extremamente exuberante nos aromas.
Com 12,5% de álcool, muito até para a categoria, o vinho é rico nos aromas, com muita fruta fresca, se destacando maçã verde, pêra, limão siciliano, com notas tropicais, e algo de flor de laranjeira. Na boca, é cremoso, de textura agradável, e uma acidez bem equilibrada, mas notável.
Bom é ter uma garrafa à mesa, e um bom prato de ostras e mexilhões, sardinhas portuguesas, arenque defumado e salada de bacalhau – além de bolinhos deste peixe, casquinha de siri e espetada de pirarucu. Pois era isso o que tínhamos, de modo que a tarde se alongou até a noite, entre brindes de Pét-Nat e garfadas nos especialidades marinhas da casa.
Que chegue logo a primeira carga de Morgado da Vila Pét-Nat.